domingo, 21 de julho de 2013

Agora sou uma guerreira

Hoje, me peguei pensando no quanto sempre fui guerreira e na verdade nunca dei muita atenção a isso. Vivi um bom tempo da minha vida, lutando contra as certezas que tinha sobre mim mesma. Mas eu só tenho 22 anos, afinal quais certezas posso ter?
Quando cheguei a psicoterapia trabalhamos a visão equivocada que eu tinha a  meu respeito. Vivia dizendo que só queria ser "normal" como todas as outras garotas. Desde a separação dos meus pais, um pouco antes de eu completar dez anos, vim trazendo uma culpa enorme comigo. Achava que meu dever era lhes trazer a felicidade. E quando eles se separaram, depois de dez anos brigando e reatando, tive a certeza de que havia fracassado.
Quando eu e minha mãe nos mudamos, meu pai não veio com a mudança. E ninguém sequer havia me perguntado se eu queria ter vindo pra cá, se eu queria ter deixado meus amigos, minha escola, minha família, minha vida.
Na psicoterapia, tive a oportunidade de dizer o que meus pais não me deixaram falar, e pude chorar as dores da separação, sentir a saudade e olhar de frente a solidão que me persegue desde aquele dia.

Ontem, fui visitar meu pai e tive a oportunidade de conhecer meu irmão. Ele é tão novo. Tem apenas 2 meses de vida. Há tanto ainda pra viver. Segurando ele em meus braços, olhando as minhas cicatrizes, pensei: "que você nunca conheça a tristeza, bebê. Que você nunca a conheça."
É estranho estar ali, meu pai não é do tipo que interrompe as coisas só pra vir sentar ao sol e saber como anda a minha vida. É apenas: "você está bem?" "sim, pai, eu tô bem" e só. Então , ele prossegue, continua o dia normalmente. E eu fico ali perdida, tentando me situar. Ele seguiu em frente, construiu uma nova vida, um nova família. Mas eu continuo lá: parada naquele dia em que ele saiu de casa, como se esperasse ele voltar. Mas ele nunca vai voltar. Nunca vai ser como antes. Sei disso, e mesmo assim, eu continuo lá esperando como se eu ainda tivesse 9 anos e não consigo seguir em frente.

Fiquei ali, olhando ele brincar com o bebê , limpando cada lágrima que rolava silenciosa dos meus olhos. "Coisinha linda do pai" era como ele me chamava... Eu sei, que isso é ridículo mas tive uma breve inveja. Como eu queria aquele abraço... como eu queria aquela atenção... como eu queria aqueles olhos orgulhosos e ouvir novamente "coisinha linda do pai". Como eu queria me sentir segura novamente, e não ter medo. 

Quando se é pequeno, quando não se sabe nada da vida, se é tão feliz. Acho que foi a época mais feliz da minha vida, apesar de não lembrar de nada. Exatamente por não me lembrar de nada.




9 comentários:

  1. Oi Fabi. Vim conhecer teu blogue.
    Não conheço bem tua realidade mas pelo que li aqui dá pra ver sim! Que és uma grande guerreira!
    Se orgulha disso flor. Lembra-te que tua vida está apenas começando. Falo de experiência própria... Você soube dar a teu pai o valor que ele merecida. Tua parte foi feita. O que ele fez contigo, por consequências múltiplas cabe a ele. E tenho certeza que um dia ele se dará conta disso. Então flor. Mesmo com as marcas levante a cabeça e continue seguindo a vida. E que a tua vitória seja alcançada dia após dia.

    Um abraço pra ti!

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  2. Olá!Boa noite
    Fabi
    sim, vc é uma grande guerreira. Claro que existem momentos que deixa marcas em nós, Mas é preciso saber aprender a conviver com as cicatrizes que inevitavelmente ficam. Sempre vai existir alguma coisinha que vai nos fazer lembrar de um momento vivido , seja bom ou ruim.
    Este momento de tristeza precisa ser respeitado, por mais que te faça se sentir mal.
    Mas, não acredite em hipótese nenhuma que de foi você quem errou. Se não deu certo é porque os dois, pai e filha, tiveram incompatibilidades e falhas. Esqueça esta ideia que você não é boa o suficiente. Procure se lembrar que criatura maravilhosa você é, das suas qualidades, dos seus valores.E lembre se que... seu pai seguiu a vida dele...
    Obrigado pelo carinho de sempre
    Bela semana
    Beijos

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  3. Você é uma guerreira, lindona. E vai perceber logo que basta seu próprio abraço para se sentir segura... Eu to tentando fazer isso.

    bjos!!

    borderline-girl.blogspot.com

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  4. A ausencia de um pai nunca é preenchida, mas ela pode ser amenizada.... e espero que ela se amenize e que vc se encontre.

    :)

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  5. Olá, Fabi!
    Não acredito que alguém tenha imaginado que a Fabi não fosse uma grande guerreira?
    Uma Guerreira trava a sua luta diária com inteligência, como inteligente que é, todas as suas lutas vão ser ganhas.

    ag

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  6. Vc é guerreira sim. Todos aqui podem perceber isso.
    Eu não faço ideia do que é ser rejeitada pelo próprio pai. Tem dua meninas que considero como filhas e que foram abandonadas pelo pai tb. Vejo o quanto isso as afeta, mesmo que não tenham nenhuma doença psiquiatra como nós.
    Eu gostaria de poder tirar sua dor com minhas próprias mãos, mas não posso. Posso apenas desejar que isso não te afete mais, pelo menos não tanto quanto agora.
    Pensa que vc tem um Pai lá no céu, que te ama incondicionalmente e te quer muito bem. Ele é o melhor Pai que qualquer pessoa poderia ter.
    Vc está em minhas orações.

    bjs da Flor~*

    bipo-analisando.blogspot.com.br

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  7. É bonito como vc escreve! ´É do seu bonito interior!

    Beijos

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  8. Oi Fabi, vim retribuir sua visita e adorei seu blog. Eu meio que tb fiz um pacto na minha infância de nunca ser feliz e parece q tenho cumprido a risca todos esses anos, na terapia estou tentando desfazer essas amarras com o passado tb, a gente vai conseguindo a cada dia. E sabe acho q seu pai tb quer essa relação mais próxima que vc deseja, só não sabe tb como fazer pra se aproximar, Tudo vai ficar bem, é olhar daqui pra frente. Um beijo grande :*

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