domingo, 11 de agosto de 2013

Aprendi a amar e a respeitar o pai que tenho



Há alguns anos atrás hoje seria um dia muito triste para mim. Provavelmente ficaria trancada no quarto, longe de qualquer coisa que mencionasse algum tipo de homenagem aos pais, porque esse tema sempre foi muito delicado... Era doloroso pensar naquelas histórias de pai presente, aqueles finais felizes que só acontecem em filmes e coisas do tipo. Por muito tempo cerquei a minha relação com meu pai de dor e ressentimento, porque não conseguia compreender a ausência e o abandono...

Mas hoje foi um dia calmo, tranquilo e super agradável apesar dele estar ausente. Sempre cobrei muito dos meus pais pela separação, mas principalmente de mim porque achava que tinha falhado. Mas depois da terapia, eu compreendi que a melhor maneira de curar certas feridas da alma, é aceitar a realidade, se livrar das idealizações, perdoar os erros e amar, amar incondicionalmente. 

Eu sempre idealizei o pai que eu queria ter, nunca fui feliz com as brigas e os maus tratos que ocorriam na minha família enquanto meus pais ainda estavam juntos, então eu criei na minha mente um tipo de pai perfeito, um tipo de pai ideal. Ele não cometia erros, não traía e nem  nos enganava; ele me amava muito, era super carinhoso e estava sempre presente;  e amava a minha mãe e deveria  ficar com a gente para sempre. 
Ele me buscaria na escola todos os dias,  e aos fins de semana nos três sairíamos juntos e visitaríamos meus avós; ele estaria sempre em casa quando chegasse a noite... ele não gritaria nem usaria de violência com a minha mãe em nenhum momento. 
Eu iria crescer num ambiente saudável onde a confiança e o respeito reinariam. Quando eu chegasse da escola ou faculdade, ele estaria lá me esperando e tomaríamos café juntos e cada um iria contar como foi seu dia.... teríamos uma mesa para as refeições, teríamos o hábito de sentar a mesa, comer juntos e conversar e o meu pai até teria aquela cadeira que os pais sempre sentam, tipo as de chefe de família... teríamos o hábito de ver tv; teríamos o hábito de sair e passear juntos; teríamos o hábito de fazer compras no supermercado com listas; teríamos uma rede na varanda; um carro na garagem e um cachorro no quintal; e nos fins de tarde nos sentaríamos na varanda para ver o entardecer, enfim ...  um monte de coisas que eu gostaria de ter e fazer ao lado dos meus pais.

Eu tinha a ideia de um pai perfeito, mas meu pai não era assim. Ele não sabia muitas coisas, e nunca me ajudou nas lições de casa; ele também não tinha carteira assinada e sempre se virava de jeito autônomo; ele não era super amoroso e ás vezes era até rude e agressivo; ele não era fiel e sempre se deixava levar por amigos, noitadas e mulheres; ele não era experiente e não sabia direito como uma família deveria ser e quando eu nasci ele tinha por volta dos vinte anos.

Eu tinha a ideia de um pai perfeito, e nunca consegui amar o pai que tinha... estava sempre cobrando, criando expectativas e me frustrando porque ele jamais iria me ligar todos os dias só pra saber como estou, ou pegar três ônibus e vir de Secretário a Petrópolis só pra me ver ou fazer todas as outras coisas que eu desejava que ele fizesse e eu nunca consegui aceitar isso.

E na separação, eu cresci. E meu pai não esteve lá quando eu acordei a minha mãe de madrugada e disse que estava sangrando, e ela sorriu e disse que agora eu era uma mocinha; meu pai não esteve lá quando eu me apaixonei pela primeira vez; ele não esteve presente quando eu me formei no fundamental e não me ajudou a decidir se eu queria formação geral ou magistério;  ele não esteve presente na formatura de ensino médio e não me ouviu discursar; ele não estava ao lado da minha mãe quando eu bati na porta do quarto dela e disse eufórica que tinha passado no vestibular; enfim... ele não viu meu corpo mudar, minha personalidade se desenvolver e meus ideais de vida surgirem então eu compreendo que agora ele não saiba lidar com o fato de que tem uma filha de 22 anos, cursando o ensino superior,  dando os primeiros passos na sua área profissional e com um monte de coisas boas pra viver ainda. Eu entendo que ele fique constrangido ao me abraçar, e que não saiba como dizer "eu te amo" me olhando nos olhos, eu entendo que ele não saiba o que me perguntar e nem como manter uma conversa comigo por mais de 30 minutos; eu entendo tudo isso porque afinal nós temos doze longos anos que nos separam,  doze anos que não compartilhamos nada juntos, doze anos que não nos conhecemos mais.

O mais importante de tudo é que apesar de tudo isso hoje eu consegui ligar pra ele e dizer sem dor e sem mágoas que estou com saudades, que o amo muito e que em breve nos veremos. E eu consegui passar o dia bem, e me  permitir estar  feliz ao lado da minha mãe e dos meus irmãos. Eu me livrei das idealizações que tinha feito, e aprendi a respeitar o pai que tenho, sim, o pai que não me liga todos os dias, nem se dispõe a vir me ver mas que eu sei me ama muito, fica feliz quando eu vou visita-lo e que de alguma forma deve  sentir orgulho de ter uma filha tão guerreira feito eu. 

Eu aprendi a valorizar a família que eu e minha mãe criamos, a casa que temos e que inclusive será minha; os cachorros no quintal, a varanda que não tem rede mas tem um sofá acolhedor e uma mesa enorme que acomoda a todos nas festas e almoços que fazemos; e tem até um carro na garagem que pertence ao meu cunhado; as compras que nunca faltam; os sobrinhos que me alegram muito; enfim...  um ambiente sem violência e com muito amor que eu aprendi a amar e a respeitar.

Eu estou bem hoje. Eu perdoo meus pais e os erros que foram cometidos na minha infância. Eu amo a minha mãe. Eu amo meu pai. Eu amo a minha família. Eu os amo simplesmente  por existirmos.




5 comentários:

  1. Que bom, querida, que você superou tudo isso!

    Bjos,

    Eilan

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  2. Que lindo e maduro tudo isso que vc escreveu.
    Parabéns e muitas felicidades mais!

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  3. Oi Fabi
    Cada um tem sua história e vida e procura administra-la da melhor forma possível. Existem certos fotos que só com o tempo vamos processá-los.
    Bjux

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  4. Ser profundamente amado por alguém nos dá força;
    amar alguém profundamente nos dá coragem.
    Lao-Tsé

    [li sorrindo. gosto demais de sentir voce assim serena]


    beijo enorme de grande!

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  5. Olá!Boa noite
    Fabi
    que bom que vc está superando e entendendo melhor todo esse processo.O resultado disso tudo, olhando mais cuidadosamente para os seus pais,mais para seu pai, é que não podemos ensejar enorme e total culpa só nele, pelo término da relação, pelo suposto fracasso do projeto familiar, pois creio que ele/es , também, sofrem pela impossibilidade de ficarem mais próximos de vc, quando vc mais precisava.
    Que venham dias melhores sempre!Sempre na #torcida!
    Obrigado pelo carinho de sempre
    Bela semana
    Beijos

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