Passou muito tempo mas Ana ainda acha que não consegue fazer isso. Que não é capaz de começar tudo de novo: todo esse lance de dividir espaço com alguém, planejar coisas ou simplesmente estar junto com alguém pra valer.
Depois que ele se foi, Ana jurou a si mesma que jamais se entregaria tanto a uma pessoa. E desde então veio levando a vida de maneira a se defender de qualquer possibilidade de uma aproximação que pudesse requerer dela o menor sinal de envolvimento. Fugir é mais fácil e não dói. E Ana se cansou de sentir dor.
Durante quase dois anos ela lutou para reestruturar a sua vida porque depois que eles terminaram as coisas ficaram meio fora de lugar. Quando você põe todas as suas expectativas em alguém e esse alguém te decepciona, você passa um bom tempo buscando no que acreditar novamente. Porque quando esse alguém não está mais lá tudo que resta é a frustração.
Até ela se desfazer de todas as coisas que pertenciam a ele levou tempo, primeiro porque ela sempre alimentou a esperança de que ele fosse voltar; e segundo, porque depois que a esperança se foi, era preciso ter ainda algumas coisas com as quais pudesse enganar a saudade. Mas o tempo passou e Ana foi descobrindo maneiras de cuidar melhor de si mesma.
É claro que ela sentia vontade de ligar pra ele quando as coisas ficavam difíceis, mas um minimo de amor que ainda tinha por si mesma lhe dava a coragem de suportar a madrugada sem sequer tocar no telefone. É claro que ela ainda chorava quando a música tema dos dois tocava no rádio, mas sempre que alguém perguntava ela dizia que estava tudo bem e que quase não se lembrava mais dele. Mentiu por um tempo e de tanto mentir começou a acreditar que fosse verdade. E com tempo passando, de tanto acreditar, aquilo realmente virou verdade.
Descobriu que estava enganada quando acreditou naquela voz interior que lhe disse que nunca mais encontraria outra pessoa. Conheceu outros caras legais, com os quais passou experiências agradáveis e viu que na verdade relacionamentos não precisam ser "eternos" para serem verdadeiros, duram o tempo que durar. E quando esses relacionamentos acabaram ficou algum tempo sozinha e nem por isso teve raiva de si mesma. Aprendeu a valorizar a própria companhia e com isso deixou de ser tão dependente da aceitação do outro, entendendo que o mais importante não é que o outro esteja sempre com você e sim que você fique bem mesmo que ele se ausente.
Se inscreveu no curso que sempre quis fazer, conheceu novas pessoas e fez amigos. Descobriu talentos, habilidades que até então desconhecia. Procurou por atividades que lhe proporcionaram uma melhor qualidade de vida e sentiu sua auto-estima melhorar significativamente. Estudou maneiras de organizar o próprio tempo a fim de fugir do estresse e do cansaço físico e psíquico. Se especializou na área que realmente gostava e decidiu investir em sua formação profissional.Tudo ficou bem novamente. Todas as feridas foram curadas e cicatrizadas e a vida de Ana voltou ao seu curso normal.
Mas todas as pessoas a sua volta se perguntam a mesma coisa : "Afinal, porque uma mulher tão bonita, inteligente e com um futuro promissor tem tanto medo de acreditar em promessas, aceitar compromisso e pensar em viver essa "coisinha" chamada amor?"