terça-feira, 21 de setembro de 2010

Confie em Deus... mas tranque o carro


  "Mike Tyson segue na mídia: andou sendo entrevistado pela Oprah e fazendo um mea-culpa por uma vida inteira de desvios de comportamento. Isso me fez lembrar de quando ele foi acusado de estupro pela ex-miss Desiree Washington, em 1991. A moça havia entrado no quarto com ele, de madrugada e, ao que consta, desistiu de levar adiante a brincadeira. Qualquer pessoa tem o direito de desistir do ato sexual na hora H e o parceiro tem o dever de respeitar a decisão, por mais fulo da vida que fique, mas deixar Mike Tyson fulo não é algo que uma pessoa de juízo arrisque.   Na época, a escritora Camille Paglia disse que Tyson errou, logicamente, mas que a moça era uma idiota. E justificou sua opinião dando o seguinte exemplo: se você estaciona seu carro numa rua escura e deixa a chave na ignição, não significa que ele possa ser roubado. Mas, se for, você foi um panaca.

 Essa história sempre me volta à cabeça quando começo a ouvir algum “ai de mim”, que é o mantra das vítimas. Fico prestando atenção na história e, quase sempre, descubro que o mártir deixou a chave na ignição. São os casos de garotas que se deixam filmar nuas pelo namorado e depois descobrem que viraram as musas do YouTube, garotos que dirigem alcoolizados a 140 km/h e acordam no outro dia no hospital, ou artistas que vivem dando barraco em público e depois se queixam por serem perseguidos por paparazzi.
Eles devem se perguntar, dramáticos: onde está Deus nessa hora, que não me ajuda? Está ajudando a encontrar sobreviventes de um tsunami ou consolando quem tem um câncer em metástase, porque esses, sim, são vítimas genuínas: mesmo deixando seus carros bem trancados, foram surpreendidos pelo destino.

“Não há prêmio ou punição na vida, apenas consequências.” 

Não sei quem escreveu isso, mas está coberto de razão. Sorte e azar são responsáveis por uns 10% do nosso céu ou inferno, os 90% restantes são efeitos das nossas atitudes. Vale para o trabalho, para o amor, para o convívio em família, para o dinheiro, para a saúde da mente e também do corpo. Reconheço que os governos não ajudam, que certas leis atrapalham, que a burocracia atravanca, que o cotidiano é cruel, e até as disfunções climáticas conspiram contra. Ainda assim, avançamos (prêmio) ou retrocedemos (punição) por mérito ou bananice nossos.

Então, tranque o carro numa rua escura e também dentro da sua garagem, não entre no quarto de um neanderthal se você não estiver bem certa do que deseja, não deixe uma vela acesa perto de uma janela aberta, pense duas vezes antes de mandar seu chefe para um lugar que você não gostaria de ir, não tenha em casa Doritos, Coca-Cola e Ouro Branco se estiver planejando perder uns quilos e lembre-se do que sua bisavó dizia: regue as plantas, regue suas relações, regue seu futuro, porque sem cuidar, nada floresce.E, por via das dúvidas, confie em Deus também, que mal não faz."

Martha Medeiros

domingo, 5 de setembro de 2010

Os Narradores de Javé

site dessa imagem: raffaelbarbosa.blogspot.com
Narradores de Javé é um filme brasileiro, de 2003, do gênero drama, produzido por Eliane Caffé.
"A pequena cidade de Javé será submersa pelas águas de uma represa. Seus moradores não serão indenizados e não foram sequer notificados porque não possuem registros nem documentos das terras. Inconformados, descobrem que o local poderia ser preservado se tivesse um patrimônio histórico de valor comprovado em "documento científico". Decidem então escrever a história da cidade - mas poucos sabem ler e só um morador, o carteiro, sabe escrever.Depois disso, o que se vê é uma tremenda confusão, pois todos procuram Antônio Biá, o "autor" da obra de cunho histórico, para acrescentar algumas linhas e ter o seu nome citado." ( Wikipédia , a enciclopédia livre)
Na sexta feira tive a oportunidade de ver esse filme, eu indico é um filme muito interessante.
Além de ser engraçado e envolvente , nos faz refletir sobre o valor que se deve dar as origens  e as raizes de um povo. Nos faz atentar para a questão da oralidade e para a importância da escrita.

Antônio Biá (José Dumont) é um personagem intrigante do filme, carteiro´e portanto conhecedor da leitura e da escrita ele era aúnica solução para aquele povo, que queria registrar suas histórias e as histórias de Javé num livro para servir de fato científico e impedir a destruição da cidade de Javé.

site dessa imagem: ufmg.br
É incrivel perceber o poder de convencimento que ele tem, está sempre rodeado por pessoas do incio ao fim do filme apesar de não ser muito confiável. Antônio Biá debocha , ri e manipula a todos a sua volta, ele desconhece de fato o poder que tem em mãos para auxilio do povo , usando-o apenas em beneficio próprio. Ele não escreve o livro , mas ao ver o lugar submerso se arrepende e começa a escrever o que ele chama de Parte II- o depois das águas ou algo do tipo.

O filme contém algumas expressões interessantes como por exemplo "sacanageiro","sabiografia", "onomatropias - a língua dos bichos","ladinagem","andança","chistosa", e várias outras que até fazem rir, mas que marcam bem a questão da oralidade.

Na porta da casa de Biá, estava escrito "proibida a entrada de analfabetos" ou de analfabetosos ( não tenho certeza da expressão) .
Tem um momento que ao se dirigir a Seu Cirilo (Henrique Lisboa) ele diz "o povo quer ouvir sua divinologia". 

Das histórias narradas pelo povo haviam versões divergentes , isso causava uma certa confusão.  O filme é muito interessante mesmo, recomendo que vejam.

É chocante perceber quantos Biás existem pelo mundo, e perceber quantas vezes agimos como um Biá, manipulando as pessoas pelo que sabemos , excluindo  e escondendo as histórias , as origens de um povo, de uma época.

A questão do feio

Li dia desses um trecho interessante sobre a questão do feio, A autora dizia ter feito uma reflexão sobre as histórias que lia quando era criança e sobre as novelas exibidas na tv,  e  percebeu uma constante relação sobre o que é belo e o que é feio.
"(...) As personagens apresentadas como boas e éticas geralmente não são gordas, míopes, não tem traços disformes e se mostram sensíveis e leais em suas atitudes; já as personagens centrais más são insensíveis e imorais, podendo ser gordas possuir cacoetes, trejeitos ou serem afeitas ao vicío."
Ainda influenciada pelo conteúdo de filosofia que estou estudando para as provas da faculdade me questionei a respeito : "o que é belo? O que é de fato bom? " A impressão que temos é que vivemos tudo de forma tão ficticía , tão teatral... A mídia dita o seu padrão de beleza e de moda e com isso corrompe nossas crianças, nossos adolescentes e nossas próprias personalidades. É assustador se por outro lado pensarmos que a novela imita a vida real afinal, é isso que nós somos?

Feitosa (2004) no livro Explicando a Filosofia com arte, aponta a noção de feio como algo que nos causa vergonha e que está associado a tudo que não se ajusta às regras e normas instituídas socialmente .

É fácil perceber como a sociedade camufla tudo de forma a parecer mais belo, seja nas novelas em que os atores se preocupam em usar maquiagens para esconder imperfeições, seja na vida real, em que não saímos de casa certos de que escolhemos a roupa perfeita.

Dia desses me impressionei comigo mesma. Estava no ponto já passava das 19h, estava exausta e ansiosa por chegar em casa; o tempo estava frio e devido as horas já pairava uma certa escuridão na praça do centro histórico. Um rapaz se aproximou e , meu Deus! Pelas suas roupas , pelo seu jeito de andar, pela sua aparência ... eu pensei que fosse um ladrão. Disfarçadamente transferi minha bolsa para o outro braço a fim de que ficasse mais segura, ele chegou mais perto e soltando a fumaça do cigarro no meu rosto perguntou que horas eram, eu estava com medo, e apreensiva . Descobri depois, que era um rapaz humilde que procurava uma casa para morar com sua esposa e seus filhos, e que provavelmente viria a ser meu vizinho.

Fiquei indignada com minha atitude, julgar uma pessoa pelas roupas que ela veste e pela sua aparência, Deus do céu! Caro amigo, me perdoe, somos vítimas desta sociedade cruel que nos dita regras e nos impoem obediencia incondicional.

Ora não te avisaram que a roupa suja devido ao dia intenso de trabalho deve ser trocada antes de entrar num transporte coletivo?Que não se deve sair nas ruas de chinelo havaianas e muito menos com os pés cheios de cimento?Que não se deve fumar em público e nem usar boné tapando o rosto caso não queira ser confundido com um ladrão? E que não se deve falar com estranhos ? Que não se deve fazer um monte de outras coisas em respeito a vida social? Bem vindo ao sistema meu amigo.
 
Nota: os questionamento no texto não apontam para nenhuma posição preconceituosa sobre quem quer que seja, é apenas uma critica a sociedade, aos costumes, aos padrões estipulados como certos.

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