sábado, 21 de novembro de 2009

Despertar

De fato quis deixar que meus olhos se fechassem, no escuro a dor é mais amena. Então talvez por falta de opções me calei e quis sofrer em silencio, mas sentada ali naquela sala, as palavras daquele jovem me golpeavam como se espinhos entrassem lentamente na minha carne , e como se a dor me causasse prazer. Aos poucos as lágrimas iam escorrendo pela minha face já marcada perceptivelmente pela minha triste realidade, era impossível disfarçar o sofrimento.
Talvez ele não tenha percebido e indiferente prosseguiu. Ele falava de sentimentos e das minhas sensações mais profundas. Inspirado por algo divinamente real , ele pode me resgatar da ilusão e me mostrar o caminho de volta pra realidade .
Foi assim que naquela noite com um desconhecido aprendi que não era a única a me trancar no meu sofrimento, e a me auto defender na minha própria solidão. Por instantes me via em seu lugar, mas não sei se seria capaz de transmitir o mesmo discurso com tamanha autoridade e sentimentalismo... "Só entende de dor, quem sente dor." "Só entende de lágrimas quem já chorou." "Só entende de enfermidades quem já esteve enfermo."
Mesmo consciente de que não estava sozinha naquela sala, e que não era a única a sentir os efeitos daquelas frases... senti como se tivesse a alma transportada a um lugar de reencontro, comigo mesma e com o motivo da minha existência. Não quero falar de fé... porque ainda não me sinto ousada e segura o suficiente. Mas confesso que algo naquela noite despertou-me para a vida, me encorajou a prosseguir , mesmo que seja numa busca infinita de mim mesma, e quem sabe até do próprio Deus.

Triste realidade...

Ás vezes prefiro não falar , não ler em voz alta , não cantar, não conversar ... sinto como se estivesse completamente muda. E quando reflito sobre esse estado me apavoro ao perceber como a vida pode ser tão preciosa, como as palavras não ditas podem significar tanto.
Então neste silêncio profundo e de algum jeito superficial as recordações me assalta a mente , inevitavelmente choro. O olhar para o lado e não perceber sequer um sorriso de cumplicidade me causa uma dor terrível por vezes tenho saudade dos amigos que nunca tive...mas reconheço que os erros foram meus, construi uma prisão e me privei do mundo real. Desejei a solidão inconscientemente e me resignei a sobrevivencia diária a tudo aquilo que de fato não quis pra minha vida.
Essa semana meus olhos quiseram se fechar, cheguei a desejar o lado obscuro da minha alma triste, declarei uma sentença que a própria vida não me reservou;quis desisti antes de tentar outros caminhos, antes de pensar num novo recomeço ... Mas sentada ali naquela sala derrepente meus ouvidos indiferentes se voltaram a algo real , algo novo , sentimentalmente forte capaz de me trazer a um despertar.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Pai : o que nunca te direi...

Quis mante-lo ali preso a mim para sempre.... desejei lhe mostrar partes do meu mundo, cheio de saudades de tudo o que ele me ensinou mas não me deixou aproveitar, saudades de tudo o que ele me negou quando resolveu me deixar e seguir a sua vida. Desde então apenas sobrevivo, venho sobrevivendo a cada dia e já se passaram 9 anos.
A saudade de tudo o que ele é me corrói, e a ansiedade por descobrir como seriam nos dois me apavora... A cada dia morro um pouco... as pessoas não percebem pois posso fingir . Talvez ele não tenha culpa do vazio que trago aqui dentro, mas alem de mim não posso encontrar outro suspeito.
Inveja, ciumes, não sei descrever o que senti exatamente quando o vi com meu irmãozinho... acho que no fundo tive pena. Hoje ele tem 9 anos, e me lembrei que até os meus 9 anos fui muito feliz ao lado de nosso pai. Ele me demonstrava amor e carinho... mas depois sinto que se acostumou a minha ausência diária.
Sinto tanta falta dele... ainda abro as portas com a esperança ridícula de ve- lo voltar... talvez ainda exista tempo de reconstruirmos a nossa família. Adoraria aprender a andar de bicicleta com meu pai.
Depois que almoçamos, depois que trocamos abraços e carinhos de pai e filha que não se vêem a meses, ele me deu algum dinheiro e disse Adeus, a hora mais terrível de todos os nossos reencontro.Eu implorei por um novo encontro, pra que ele não fosse, pra que me ligasse, jurei que o esperaria mas ele simplesmente se foi.
Me despedi do meu irmão ... sempre agimos como se nos conhecêssemos a cada dia que nos vemos... eu disse a ele pra que cuidasse do meu pai, porque a vida me negou essa oportunidade.
Então eles entraram no carro e se foram... eu fiquei ali até que eles virassem a curva do Adeus e depois chorei sem que ninguém me visse.

Perguntas sem respostas...

Deitada ali banco da praça, o céu de repente me pareceu verde...tinha muitas folhas verdes e de repente surgiram até galhos como de uma árvore. E por um instante eu tive a sensação de que cada galho daquela árvore sabia um pouco de mim. Quis fazer perguntas , mas sei que não obteria nenhuma resposta conveniente, talvez recebesse sinais, mas por enigmas já basta eu mesma e tudo o que eu sou.
As ruas com seus nomes em placas já apagadas, as pessoas mais conservadas que de costume, estradas desertas, pouco movimento. Caminhar pelas ruas de Secretário me dá uma sensação prazerosa, como se eu estivesse mais perto de descobrir quem sou.Como se cada rua, cada cantinho, cada casa, cada pessoa soubesse algo a meu respeito que eu mesmo desconheço.
Por vezes me pego pensando em como seria a minha vida, se eu nunca tivesse deixado este lugar, sinto uma saudade enorme de tudo o que eu vivi aqui e até do que não tive tempo de viver. Mas enfim a vida ás vezes nos leva por caminhos diferentes.
Ficarei aqui por mais alguns dias até o fim de semana talvez. Ansiosa e sensível como sou... as vezes espero que alguém me reconheça, espero reencontrar velhos amigos...mas nesse instante aqui nessa lan house barulhenta tenho a mesma sensação de tédio e prazer que me acompanham cotidianamente.

sábado, 14 de novembro de 2009

Pra me defender ...

Eu vou trancar todas as portas e me defender de você .
Não quero que veja meu rosto quando as lágrimas caírem sem cessar.
Vou trancar bem a janela e bloquear a entrada de luz.
Quero que esteja escuro quando amanhecer o dia .
Talvez assim eu não precise me reerguer tão cedo
Ficarei muda quando você insistir em gritar.
Vou bloquear a sua voz e me concentrar apenas no meu silencio.
Sentir de vez a dor e o sofrimento pra depois enfim começar de novo.
Vou conquistar cada segundo do meu tempo
E reescrever minha vida sempre que pensar em desistir.
Quero arriscar escolhas e superar de vez este medo de não te agradar.
Seus pensamentos críticos a meu respeito já não me importam mais.
Vou te ignorar completamente . Fazer escolhas por mim mesma.
E quando a fraqueza vier vou encarar-me no espelho .
Reunir em mim todas as forças e lutar
E provar a você que sim, eu posso sobreviver sem você.

Máscara

Sempre me disseram que com o tempo me sentiria melhor. Que não há dor que o tempo não cure, nem ferida que o tempo não cicatrize. Bem,ou a minha noção de tempo está equivocada ou essa dor ele não cura mais.

Nesse tempo já me reinventei diversas vezes, já me refiz, já me aniquilei, já me escondi,e no entanto a única conclusão a que cheguei é que existem marcas que sempre estarão com você , pra que você se lembre, pra que simplesmente não esqueça, que as coisas acontecem quando você está ocupado demais em fazer com que aconteçam e você quase nunca as pecerbe.

Não sei como seria minha vida, se eu pudesse reescreve-la. Caminhei tantos passos, tantos atalhos, tantos caminhos... que não sei onde errei, onde de fato cai, e sequer sei o caminho de volta, se é que tem volta. Me sinto tão distante.... tão longe e no entanto não sei dizer ao certo onde estou.

Tenho a sensação de ser alguém experiente, de já ter vivido bastante pra compreender um pouco do que é a vida de fato, mas a realidade triste e cruel é que em todo esse tempo, apenas sobrevivi. Então ao contrario,não tenho experiência suficiente pra entender o que é a vida de fato, não sei nem ao menos defender quem eu sou.

Por tanto tempo me escondi atrás do que as pessoas dizem que eu sou que uma angustia enorme toma conta de mim, quando enfim me encontro só em frente ao espelho... eu e minha mascara... mas talvez nunca saiba realmente quem eu sou, porque tenho medo de tirar a mascara. Medo de que por trás dela não exista ninguém.

Uma nova chance

(...)
Após o suicídio....


Depois quando reuni em mim o pouco de força que restou... abri os olhos,tive por um instante a sensação de acordar depois de um sono profundo, depois de um mergulho, uma viagem nas profundezas de minha alma. Acreditei que retornaria forte, rejuvenescida ao menos em parte.... mas continuava fraca, pobre e vulnerável.
Tentei me erguer mas era impossível caminhar, quis olhar a minha frente, mas me faltava coragem... coragem de encarar a parede agora corrompida com o vermelho da minha revolta.
As janelas se abriram e de repente fui tomada por uma ansiedade, uma vontade desesperada de caminhar sobre a grama e a terra ... de sentir as gotas de chuva ... era meu corpo clamando por um pouco mais de vida .Ainda relutante resolvi encarar a parede, afinal mais cedo ou mais tarde eu seria confrontada com as consequencias daquele meu ato impensado.
Surpreendentemente não havia mais vestígios de sangue na parede, ela permanecia clara e intacta como se nunca tivesse sido atingida. No chão também não havia sinais de morte ou desespero , eu estava viva.
Respirava vida, pensamentos, sonhos...se todo mundo precisa de uma nova chance eu tinha conquistado a minha por um alto preço.

domingo, 8 de novembro de 2009

Suicidio

Fiquei horas ali a olhar aquela parede fria e intacta a minha frente. Procurei no fundo da minha alma qualquer coisa que me reerguesse, que me fizesse voltar ao mundo real. Mas não, não encontrei motivos. A cada minuto me sentia mais empobrecida, de vida, de ar, de sonho... Como se todas a minhas caixas estivessem sendo abertas e jogadas ao vento. No fim tudo o que restou foram mesmo um monte de caixas vazias entulhadas num canto. Eu estava pobre , fraca e vulnerável.

Num desespero terrível, pus-me a desferir golpes contra meu próprio eu. Numa busca desenfreada de qualquer coisa que me fizesse voltar a consciência a sanidade. As gotas de sangue corrompiam o branco puro da parede a minha frente , que agora estava viva, respirava vida, pensamento, sonhos....

Um grito de socorro angustiante saia do fundo da minha alma, mas ninguém além de mim era capaz de ouvir, minha condenação: estava trancada na minha própria solidão.Esperei por uma voz que não fosse a minha, por outros braços e mãos que não me quisessem ferir. Por um acalento real e eterno. Não houve resposta, nem retorno, morri naquele dia.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Abandono

Dias se seguiram... noites após noite, eu alimentei a expectativa de um reencontro, de uma ilusão doce e sincera. Mas tudo o que me ocorreu foram noites de insônia, pesadelos e dias de grandes dores de cabeça. Num canto qualquer, me mantive e sufoquei dentro do meu próprio corpo o desejo de um abraço que nunca veio, de um sorriso que nunca existiu, de um amor que nunca foi real. E assim muitas pessoas sobrevivem, com paixões inventadas, amores pela metade. Fragmentos de sonhos, que com o tempo logo se perdem... e tudo o que resta, quando resta alguma coisa, é palavra, é verso, canção.

Vestigios

...Quase sem forças, escorro da cama para o chão e caminho devagar pela casa, vazia e silenciosa como sempre. Tem algo que me assusta, o medo de ao olhar no espelho ainda encontrar como vestígio da noite de sonhos, um meio riso no rosto. Algo que condenaria minha fisionomia pelo o resto do dia, até que escurecesse. Me obrigando a viver a vida de uma forma mais amena, mais tranquila... cantarolando qualquer melodia sem letra, parecendo mais satisfeita do que antes.
Olho para o lado, no relógio são 12:40hs e em baixo da minha janela ouço um som como se alguém cortasse as flores do meu jardim. Mas não tenho um jardim e nem sei cuidar de plantas. Ainda estou na cama, não sei se ela que insiste em me manter presa sua, ou se eu que insisto em me privar. Estou vestindo um short curto e uma blusa social aberta. Meus braços doem, meu corpo inteiro dói, de cansaço, de puro sedentarismo.
O rádio toca qualquer coisa em inglês que não entendo mas admiro. O telefone toca outra vez. Desde que meu sonho se foi, ele não para de tocar. Deve ser a realidade cumprindo a difícil tarefa de me despertar de uma vez por todas. Ao sair na varanda sinto uma dor de cabeça angustiante. A claridade do dia torna tudo mais claro para mim. Num desespero que é quase um arrependimento, desejo voltar a noite que passou para apagar o sonho, para esquecer o homem... mas qualquer esforço que eu faça é inútil: ele está em mim. Mais uma invenção da minha carência, mais um fuga nas minhas noites de insônia... com uma diferença: desta vez ele tem nome, tem rosto, tem voz.
*********

Uma noite, um sonho

*****
Aquela noite quando despenquei na cama e fechei os olhos, já passavam das 4 da manhã. Fechei os olhos e fingi dormir um sono profundo, enquanto via as cores do amanhã se formarem no céu. Aquela noite meus sonhos me levaram a lugar mais longe que de costume, na companhia de um alguém mais real que de costume... um homem fortemente intenso. Ainda sinto suas mãos tocando cada parte do meu corpo, e ainda ouço suas palavras... Em dado momento nos conhecemos: eu a ele, e ele a mim.. No auge da descoberta nos perdemos e por um instante tive a sensação de ocuparmos o mesmo lugar no espaço. Depois como dois desconhecidos nos despedimos com um cortês “boa noite” , não o reconheci mais, nem a ele, nem a mim...e ele desapareceu no sonho.
Alguém me chama, bate na porta... mas eu com o corpo ainda vívido e quente, não consigo responder nada. Olho para o lado: estou só... presa na imensidão e maciez dos lençóis brancos da realidade. O sonho se desfez .
O dia já é quase tarde quando ouso levantar, os lençóis envoltos em minhas pernas insistem que devo ficar aqui, uma eterna prisioneira da fantasia.

Loucura

Ás vezes acho que sou louca, e até sinto a loucura se apoderando de mim... mas a loucura é algo serio demais , pra ser tratada aqui de um modo tão leviano... acho que não existe mesmo palavra no dicionário pra definir o que sou, e isso pode até parecer definição certa , mas entenda como pura ausência de identidade. Mas esse não é mesmo o tempo em que descobrimos quem realmente somos...
Os livros na estante empoeirados, sempre a mesma musica triste tocando... é fácil perceber pedaços de sonhos pelo chão, pedaços de uma infância roubada, pedaços de um coração dilacerado, que diariamente sobrevive. Gosto de me arrumar a noite como se fosse sair, apesar de toda a certeza de que ficarei em casa como todas as noites. Essa é a pior hora do dia, porque já estou cansada de inventar desculpas para resistir, para sobreviver, para acompanhar o tempo que passa lentamente. Então pego uma folha em branco inutilmente, porque mesmo que eu pense qualquer coisa, a meu respeito ou a respeito da própria folha sei que ela permanecerá em branco. Me isolo num canto qualquer, e fico quieta, calada, enquanto as coisas lá fora acontecem.
A dor da solidão é horrível, o silêncio da casa me dá medo. Um medo que me protege, que me encoraja a continuar aqui. Nesse canto onde não há voz, onde não há respostas, onde tudo gira em torno de mim.

Lugar Comum


Anoiteceu... ouço passos, e por isso sei que está na hora de voltar.... voltar para o mesmo lugar de sempre, para o meu esconderijo, meu mundo, meu quarto. Eu até tentarei um disfarce, talvez toque alguma coisa.... mas a necessidade de estar em silêncio é tão forte, que a voz não sai e o próprio violão emudece, tranco as portas e sei que no fim acabarei aqui , nessa descoberta infinita de mim mesma, nessas revelações surpreendentes, e construções que nunca terminam.
Não preciso me preocupar, não vai chegar ninguém, nunca alguém teve a coragem de entrar. E mesmo que tivesse... não faria muita diferença. Poucos sabem ler os sinais das paredes cinzas do meu quarto, poucos compreendem a cor cinza, poucos percebem o buraco da janela, e quase nunca entendem o porque. Minha vida é um segredo, talvez eu seja mesmo incompreensível, talvez apenas me esconda. É estranho olhar a vida do lado de fora, de um buraco na janela, ao menos tenho uma visão contraria do que realmente acontece, e isso ameniza, torna um pouco mais fácil... viver. (...)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Desabafo

O que mais dói é esse vazio que eu sinto aqui dentro, esse medo e ao mesmo tempo essa curiosidade pelo silêncio, solidão, essa falta das pessoas que eu amo, essa sensação de ter chegado ao fim sem nem ter merecido um começo digno de ser lembrado...
A vida tão cheia de canções tristes e versos sem rima. Na cosnciencia a culpa por um apreço imerecido e ao mesmo instante irrevogável.
Com os olhos pregados na cor cinza das perdes do e do teto, vejo a noite passar. Quero falar, mas não sei as palavras corretas para expressar a dor que eu sinto. Quero cantar, mas não há versos,nem canções,meu violão está incompreensivelmente mudo. Quero gritar, mas tudo que sai de dentro de mim é um grito de silêncio terrível e sufocante.


(11.08.2009)

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